A BUSCA POR TRIÂNGULOS AMOROSOS

Esse não é um texto sobre infidelidade, mas sobre a compulsão por triângulos. Algumas pessoas têm uma espécie de fascinação por triângulos amorosos. É como se dissessem: “Se há um casal bonito, quero estar no meio.” Geralmente esse é um processo ligado à inveja e que busca inconscientemente roubar a relação bonita que se vê no casal. Essas pessoas em geral tiveram dificuldades emocionais na época em que vivenciaram o que Freud chamou de Complexo de Édipo.
Na primeira infância o bebê está muito ligado à mãe, mas percebe que não é o centro das atenções da mamãe, que ela também se interessa por papai (pela vovó, pelo trabalho...) e o bebê vive a angústia de se sentir preterido em alguns momentos. Dependendo do clima emocional na família, o bebê vai registrar que para se sentir amado pela mamãe, tem que destruir papai, tem que usar suas artimanhas para receber atenção da mamãe, se não ele ficará esquecido. A forma de lidar com o sentimento de rejeição é algo aprendido bem cedo e ele pode registrar que ser deixado de lado é algo que, se ele não cuidar, acabará acontecendo. Daí teremos um adulto ansioso com os vínculos afetivos.
Por outro lado, algumas mães se dedicam só ao bebê, se afastam do marido e também afastam o marido do bebê. Desenvolvem uma relação simbiótica com o(a) filho(a). Desta forma, a criança cresce com dificuldade de aceitar outras pessoas importantes na vida do ser amado porque isso não foi ensinado com naturalidade.
Alguns adultos buscam sempre uma relação com alguém já comprometido, se iludindo que o ser amado deixará o casamento que tem. Essas pessoas, na verdade, podem estar buscando de forma distorcida o amor de um casal parental (um pai e uma mãe para o bebê que ele sente que é). Ou podem estar buscando sempre uma disputa: “Sou melhor que ela e ele vai ficar comigo!” Daí o parceiro desejado é o troféu da competição. Depois de conquistado o troféu, ele perde a graça, vai para a prateleira... o prazer está na conquista.
Existem diferentes jeitos de se viver triângulos amorosos. Exemplos: estar numa relação e ter sentimentos platônicos por alguém; sempre desejar alguém comprometido; estar numa relação e "precisar" sentir ciúme do par por causa de alguém (que sequer justifica o ciúme); estar sempre procurando alguém melhor que o parceiro atual etc.
A idealização: Algumas pessoas estão sempre idealizando uma relação que não é a sua. Acham que o namoro que tem é sem graça, que levam uma vida medíocre, mas com aquele outro seria tudo maravilhoso. Até que namoram aquele que parecia maravilhoso e descobrem que uma relação gratificante é construída pelos dois, com muita conversa, com acordos e muitas vezes abrindo mão das vontades individuais para o bem do casal. Ou seja, que uma relação adulta não vem pronta. As pessoas que idealizam a relação dos outros podem criar fantasias românticas que ficam só na imaginação (num amor platônico), ou tentar conquistar a outra pessoa idealizada. Mas o fracasso das relações que essa pessoa idealizadora estabelece é inevitável.
Romper esse padrão depende de tornar consciente o mecanismo inconsciente que motiva o comportamento. Depende de conhecer através de uma psicoterapia o que leva a pessoa a repetir uma forma de se relacionar que está fadada ao fracasso, porque ninguém está inteiro numa relação triangular.
É cansativo e frustrante ser sempre a segunda escolha do parceiro amoroso. Se você investiu em conquistar um homem casado, ou mulher casada, o ciúme será sempre seu companheiro, e não o ser amado. O(a) esposo(a) virá sempre em primeiro lugar, por mais que ele(a) diga o contrário, e você será o segundo(a).
Se ele(a) traiu seu parceiro, será que nunca vai te trair? Essa dúvida terá sempre lugar numa relação que se iniciou numa base errada. Essas relações tendem a terminar com todos feridos.
Pessoas que escolhem ter sempre mais de um (é casado, mas também tem namorada), pode ser uma personalidade insegura e infantil. Não fica segura e satisfeita com o que tem, quer se garantir do medo da rejeição deixando sempre uma possibilidade caso se frustre na relação que tem. Exemplo: minha mulher (marido) está mal-humorada (o), mas eu não vou conversar com ela(e) para tentar ver o que acontece e deixar nosso casamento melhor, vou me distrair com outra(o). Essa pessoa tem falta de confiança no vínculo conjugal, não investe em uma relação madura porque está sempre de olho em vir a ter algo melhor, sem perceber que uma relação conjugal melhor está em suas mãos. Ao investir em entender o companheiro(a), investir em agradar, conversar para conhecer o outro profundamente, conhecer seus anseios, suas ambições, falar de si, ajudar e pedir ajuda, pedir o que precisa na relação e dar o que o outro pede (na medida do possível), vai fazer você ter um relacionamento muito gratificante.
Além disso, as terapias de casal estão aí para ajudar na construção desse vínculo desejado.
Gisela Castanho
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