ENFERMEIRA DE PAQUIDERME

Me escreve Januária:

“Me apaixonei por um homem, vivemos uma amor tumultuado, mas cheio de prazeres. Me diverti muito com ele. Mas depois de um tempo a relação foi se desgastando e terminamos. Ele quer continuar amigo, e insiste nisso todos os dias através de mensagens, mas eu não quero mais ve-lo. Ele diz que nossa amizade não pode acabar assim, que sente falta de conversar comigo, que eu o ajudo a suportar o fardo da vida. Precisa conversar comigo sobre as coisas que ele sente e que sou sua única amiga verdadeira. Desejo o bem dele, mas não quero mais saber da sua vida. Acho que ele não se ajuda, insiste nos mesmos erros e não admite. Sinto que tenho que cuidar de um elefante doente quando estou próxima dele: é pesado e nada do que eu faça vai realmente resolver. Vivi um tempo inútil e desperdiçado ao lado dele”.

Querida Januária, proteja-se e busque o melhor para você. Se ele sente sua falta, esse é um problema dele. Se você tem suas razões para querer ficar longe, fique. Parece que você se deixa explorar; que se alguém te necessita, você não pode dizer não. Onde você aprendeu isso? Em que caminho percorrido a vida te ensinou que você não pode afastar pessoas que te desejam nem que seja para te sugar? Parece que essa relação te intoxicou e agora você precisa de distância.

Ser desejada pode ser uma ilusão. Ser querida é o que todos querem, mas desejada para quê? Para ser usada? Você quer voltar a ser a pessoa com quem ele desabafa todos os seus problemas insolúveis?

Antes só, do que mal acompanhada, não é? Esse peso você não precisa carregar. Foque nos seus problemas para não se distrair com os problemas alheios. Afinal as nossas próprias questões é que merecem atenção e carinho.

Se você diz que ele tem problemas insolúveis, você tem razão. Só ele pode resolvê-los. Se quiser ser enfermeira de elefantes, procure emprego no zoológico.

Gisela Castanho