UMA HORA OS FILHOS VÃO EMBORA...


Pois é, sempre falaram que os filhos são do mundo até que o caçula amadurece e resolve mesmo morar fora da sua casa. Ele já trabalha e quer ter a vida dele. Quem diria! O tempo passou tão rápido... Ele cresceu, se tornou adulto e agora quer o canto dele.

Mesmo tendo seu trabalho, seus amigos e sua vida cheia, dá uma sensação de ninho vazio. Isso é mais comum em mulheres do que em homens porque elas costumam ser as cuidadoras dos filhos e da casa. Essa sensação de que falta alguma coisa importante é pior se você é divorciada e morava só com ele.

Dá um frio na barriga: para quem você vai dar boa noite? De quem você vai cuidar? Ele(a) vai saber se cuidar? Será que você vai se sentir solta no espaço? Sim, no começo vai, mas depois se acostuma e passa a achar bom.

Se o casal não se divorciou, neste momento que os filhos se tornam adultos e saem de casa os parceiros se olham e se perguntam: faz sentido continuarmos juntos? Já cumprimos a missão que tínhamos em comum. E agora, temos porquê continuar compartilhando as nossas vidas? Ainda escolho essa pessoa ao meu lado como companheiro(a), como escolhi há tempos atrás?

Filhos adolescentes têm pais na meia idade. Quando os filhos entram na vida adulta, os pais estão se aproximando da terceira idade, considerada dos 60 em diante. Os filhos vão embora de casa, em geral, em algum momento entre os 20 e os 30 anos, nas grandes cidades do Brasil. Leva cada vez mais tempo para eles conseguirem adquirir a independência financeira que permita morar sozinhos. Essa é uma conquista importante para eles; é um passo que deve ser dado com as próprias pernas, sem que os pais sustentem os filhos em outra casa. Falo sobre isso no capítulo 1 do livro Terapia de Família com Adolescentes (CASTANHO e GARCIA, Editora Roca, 2016).

Se os pais estão com mais de 50 anos, tem grande chance de estarem lidando com a velhice dos avós. Hoje são doenças crônicas, aquelas que antes matavam prematuramente os mais velhos. Não se morre mais de câncer. Hoje se trata. O coração que matava os avós até a década de 60, parou de matar com os avanços da cardiologia. Que bom que temos nossos idosos com mais saúde e até mais tempo conosco! Mas o resultado negativo disso é que convive-se com o sofrimento crônico das doenças por mais tempo na família.

Então, você muito provavelmente está sem a convivência com a juventude e vitalidade dos seus filhos e tendo que cuidar da sua mãe ou pai senil. Bate tristeza e medo: “quem vai tomar conta de mim quando eu estiver como meus pais estão hoje?”

A saída para o momento presente é procurar seus iguais. Onde estão os amigos e amigas? E seus irmãos e primos? Será que eles precisam de você? Será que gostariam de ser convidados para um café na sua casa de vez em quando? Será que querem dar uma caminhada com você pelo bairro? E na vizinhança, tem alguém que você pode chamar para um cinema? Onde estão aqueles amigos de juventude? Você já os procurou pelas redes sociais? Onde tem grupos de pessoas da sua idade para você conhecer gente? Quando estiver com eles, cuidado para não reclamar da vida e falar só do que te falta, mas você pode falar também dos aspectos bons da sua vida, para ser uma companhia agradável. Suas amigas podem estar passando por situações muito parecidas com a sua e vão gostar de ter sua companhia.

Tecer uma rede de amigos, ou fortalecer a rede que você tem, pode parecer difícil, mas é algo que você precisa fazer porque só o compartilhar salva a alma da solidão. Todos precisam de presença e carinho. Você pode começar oferecendo seu afeto e energia a outras pessoas já que seus filhos estão experimentando as alegrias da independência.

Gisela Castanho

Invista em seus laços afetivos! E é sempre bom lembrar Khalil Gibran (1883 – 1931) poeta libanês.


“Vossos filhos não são vossos filhos. 
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. 
Vêm através de vós, mas não de vós. 
E embora vivam convosco, não vos pertencem. 
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos, 
Porque eles têm seus próprios pensamentos. 
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas; 
Pois suas almas moram na mansão do amanhã, 
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho. 
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós, 
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados. 
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força 
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe. 
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria: 
Pois assim como ele ama a flecha que voa, 
Ama também o arco que permanece estável.”

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